Espreitava para lá das das nuvens na ânsia de um olhar seu. Um último olhar que fosse, um último sorriso, qualquer coisa, ainda que fosse a última.
Eram densas as nuvens mas no seu íntimo, aquela parte mais escondida de si, sabia que essa qualquer última coisa as conseguiriam atravessar.
O seu olhar, o seu sorriso, essa qualquer outra coisa, trespassariam quaisquer nuvens, por mais densas ou escuras que fossem.
Aquietou-se. Deixou de espreitar. Algo lhe dizia, para além dos lugares comuns, que se tivesse de ver alguma coisa veria, no momento certo da incerteza que sempre tinha sido a sua vida.
Entre a espera de já nada esperar, ia vendo passar o filme de toda a sua vida. Na verdade nunca esperara nada, nunca tinha precisado de esperar. A vida tinha-lhe caído sempre nas mãos e escorria-lhe, invariavelmente, por entre os dedos demasiado confiantes, naquela certeza estúpida de que seria sempre assim.
E o filme parou, de repente, no momento em que algo fez acordar a sua consciência. Já não havia nuvens, já não havia nada, a não ser o ténue vislumbre do tal último olhar, da tal última qualquer coisa.
Perdera, implacavelmente, o que mais desejara naquele momento. Já não fora a tempo.
Sempre gostei de escrever e sempre em prosa. Achava que de mim nunca sairiam poemas, que isso era coisa de poetas, essa gente que sofre muito... Da prosa ao versos não houve premeditação. Foi um ímpeto, algo visceral que me fez começar a escrever poesia. Nos meus poemas não há títulos, nem rimas. No meus poemas há amor vivido e amor doído, há catarses, há gritos mudos, há feridas saradas e outras por sarar. Foi então que entendi os poetas.
Excelente regresso. Parabéns :-)
ResponderEliminarThank you :)
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