quinta-feira, 22 de março de 2018

Tela de Armanda Alves
Passavam por mim, acotovelavam-se no querer chegar a lado nenhum, que era esse o único lugar onde estavam todos os que não se queriam ver.
Alguns olhares vagos, outros vazios de desejo, de querer. A única coisa que queriam era chegar, apenas chegar.
As garrafas já vazias iam marcando territórios, assinalavam o caminho para lado nenhum, para o sítio de um êxtase sem sabor, sem desejo, sem paixão. E continuavam a marcha, uns atrás dos outros, que alguém havia de saber o caminho.
Era assim que passavam a noite, de olhares vagos, corpos flácidos, ombros descaídos, seguindo garrafas vazias, sempre em busca do tal caminho para lugar nenhum.

Era assim que se transformava a cidade, numa noite de busca de paixões inexistentes no fundo de garrafas vazias, como vazias se tinham tornado as suas vidas.
A cidade está cinzenta, chuvosa, triste como as almas que nela vagueiam.
O frio entranha-se em cada pedra, em cada passo dado sem destino. Clama por calmaria, pede que a deixem reviver a Primavera dos passos suaves de pessoas com sorrisos de flores e cores, muitas cores.
A cidade não dorme, a cidade já não é o destino. Espera por novos cheiros, novas vidas.

A cidade perdeu a cor, mas sabe de cor o seu reviver.

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