domingo, 1 de abril de 2018

Foto de Naná Rebelo.
Fotografia - Fatinha Afonso
E o fresco da noite entrou-me pele adentro como se fosse sua,
como se tudo pudesse, como se eu deixasse.
E eu deixei, como se nada mais houvesse que se apoderasse de mim,
naquela noite,
e deixei-me levar, porque nada mais havia, a não ser o fresco e a noite.
E caminhei, caminhei sempre, até que me senti,
até que senti duas, só duas, grossas lágrimas a quererem escorrer-me na face
devagar
como que a querer que as bebesse
devagar
como que a querer que as saboreasse
como se nunca as tinha saboreado
essas duas lágrimas, só duas.
mas tão minhas, só minhas.
E foram rolando,
devagar,
sem pressa,
sem paixão,
mas com tudo o que a alma, e só a alma, tem para sentir
em forma de lágrima.
E que salgadas as senti quando me tocaram os lábios,
quando as lambi para que não me fugissem,
aquelas lágrimas.
Eram de mim e a mim tinham de tornar
que não queria que se perdessem num qualquer chão que não fosse meu,

E assim foi, no fresco da noite, que só ele sabia daquelas lágrimas.

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